quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Artigo -O Coordenador Pedagógico na Educação Básica: Resumo para estudo professoras Sara e Lucineide.


O COORDENADOR PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO BÁSICA:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Introdução

Este trabalho resultou de uma pesquisa sobre o papel do coordenador pedagógico na instituição escolar e a importância de suas intervenções na formação continuada do professor. Autores como Libâneo (1996), Almeida (2001), Fusari (1992) , Lima (2000a; 2000b; 2005; 2007), Ivani Fazenda (1993, 1995), Demo (2001), Phillipe Perrenoud (1993, 2000) e Antônio Nóvoa (1999) dentre outros, estudam as relações de poder na escola e, nesta direção, como uma liderança pedagógica centralizadora, inviabiliza o desenvolvimento de intervenções significativas no saber-fazer escolar.
Este artigo está organizado em cinco seções, a saber: a) alguns olhares sobre o papel do coordenador pedagógico na instituição escolar, b) Sobre a necessidade de um outro olhar do coordenador pedagógico c) a intervenção do coordenador pedagógico na formação continuada de professores d) o tempo de construção na construção do trabalho pedagógico e e) a ação e participação pedagógica por meio de ações coletivas.

1. O TRABALHO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO –
ALGUNS OLHARES:

Entendemos a coordenação pedagógica como uma assessoria permanente e continuada ao trabalho docente, cujas principais atribuições, dentre outras, podem ser listadas em quatro dimensões como aponta Piletti (1998, p. 125):
a) acompanhar o professor em suas atividades de planejamento, docência e avaliação;
b) fornecer subsídios que permitam aos professores atualizarem-se e aperfeiçoarem-se constantemente em relação ao exercício profissional;
c) promover reuniões, discussões e debates com a população escolar e a comunidade no sentido de melhorar sempre mais o processo educativo;
d) estimular os professores a desenvolverem com entusiasmo suas atividades, procurando auxiliá-los na prevenção e na solução dos problemas que aparecem.

Analisando essas imagens comuns na vivência de coordenadores pedagógicos, organizamos uma pesquisa de campo de índole qualitativa com questões semi-estruturadas, tendo como sujeitos epistemológicos, coordenadores pedagógicos da Rede Municipal de ensino de São Paulo. na qual indagamos sobre a percepção profissional do coordenador sobre as imagens que derivam do imaginário social da escola e da perspectiva do papel de deste profissional para a atualidade.

  • Percebemos uma queixa unânime sobre a sua desorientação e quase perda de identidade profissional e constatamos que o cotidiano das escolas e algumas crença no seu interior inviabilizam a reflexão sobre suas práticas, perspectivas e possibilidades de sua intervenção no universo docente.
  • Uma das dificuldades do coordenador pedagógico no desenvolvimento de seu trabalho é a definição do seu campo de atuação na escola. Assim, por não ter claro o seu papel ou mesmo tendo claro, mas abrindo mão dele por conta das crenças auto-realizadoras no interior da escola, acompanha o ritmo ditado pelas rotinas ali arraigadas.
  • Ao indagarmos sobre seu conhecimento sobre o papel e campo de atuação na escola, os coordenadores pedagógicos foram unânimes em afirmar que uma das atribuições mais importantes é a de formação continuada, desenvolvida junto aos professores, trabalho que necessitaria estar articulado aos princípios pedagógicos assumidos pela escola, por meio de uma leitura sistemática e intencional da realidade contextual.
  • Segundo seus relatos é isso que as comunidades intra/extraescolar esperam, entretanto, frente a inúmeras questões que são colocadas para o profissional resolver, inclusive no caso de ausência do restante da equipe técnica, mesmo essa atribuição não é suficientemente desenvolvida.

Os sujeitos epistemológicos concluem que ao término do ano, no momento da avaliação da escola e de seus profissionais surgem respostas que causam instabilidade emocional como se a responsabilidade pelo andamento do trabalho pedagógico da escola fosse somente sua.
Observam que quando da pergunta “Como foi o andamento do trabalho do coordenador pedagógico neste ano?” Não raras vezes, como resposta ouve-se que foi um trabalho sem objetividade, muito diretivo, de muito discurso e pouca ação.
Outras indagações de tonalidades irônicas, levantadas pelos coordenadores pedagógicos, que lhes são colocadas e cobradas, relativizando sua importância no interior da escola são: “Os índices de repetência e evasão continuam altos? Os especialistas são burocratas e não colaboram para diminuir isto, então para que servem?”
[...] o coordenador pedagógico afasta-se de seu referencial atributivo, que não as nega, mas por meio de um trabalho intencional, planejado contextualizado orienta-as pela conscientização de suas atribuições e de seu papel referencial de coordenador de ações. Este afastamento instabiliza o profissional, a tal ponto que, segundo Bartman (1998, p.1):
...o coordenador não sabe quem é e que função deve cumprir na escola. Não sabe que objetivos persegue. Não tem claro quem é o seu grupo de professores e quais as suas necessidades. Não tem consciência do seu papel de orientador e diretivo. Sabe elogiar, mas não tem coragem de criticar. Ou só critica, e não instrumentaliza. Ou só cobra, mas não orienta.

Há que se buscar, portanto, um outro olhar acerca da relevância do trabalho do coordenador pedagógico na escola, mediado pelo equilíbrio de suas atribuições como um dos eixos imprescindíveis às práticas pedagógicas sistematizadas onde cada um e todos se tornam co-responsáveis pelo processo ensino-aprendizagem.

2. OUTRO OLHAR DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NA ESCOLA

Tendo a prática e o olhar de docente como referência, o coordenador enfrenta o desafio de construir seu novo perfil profissional e delimitar seu espaço de atuação. Sua contribuição para a melhoria da qualidade da escola e das condições de exercício profissional dos professores dependerá do sucesso alcançado nesta tarefa. Neste sentido, tomamos emprestadas as palavras de Fonseca (2001), aplicando-as à necessidade do papel de um novo olhar do coordenador pedagógico na escola que deve ser orientado para:
1-Resgatar a intencionalidade da ação possibilitando a (re) significação do trabalho - superar a crise de sentido.
2-Ser um instrumento de transformação da realidade - resgatar a potência da coletividade; gerar esperança;
3-Possibilitar um referencial de conjunto para a caminhada pedagógica - aglutinar pessoas em torno de uma causa comum;
4-Gerar solidariedade, parceria;
5-Ajudar a construir a unidade (não uniformidade); superando o caráter fragmentário das práticas em educação, a mera justaposição e possibilitando a continuidade da linha de trabalho na instituição;
6-Propiciar a racionalização dos esforços e recursos (eficiência e eficácia), utilizados para atingir fins essenciais do processo educacional;
7-Ser um canal de participação efetiva, superando as práticas autoritárias e/ou individualistas e ajudando a superar as imposições ou disputas de vontades individuais, na medida em que há um referencial construído e assumido coletivamente;
8-Aumentar o grau de realização e, portanto, de satisfação de trabalho;
9-Fortalecer o grupo para enfrentar conflitos, contradições e pressões, avançando na autonomia e na criatividade e distanciando-se dos modismos educacionais;
10-Colaborar na formação dos participantes.

3. FORMAÇÃO CONTINUADA DE EDUCADORES E COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

Não se trata de imaginar que cabe ao coordenador sozinho realizar tantas tarefas, mas de compreender que este, estando a serviço do grupo no encaminhamento dos objetivos de buscar a superação dos problemas diagnosticados, possa promover a dinâmica coletiva necessária para o diálogo.

4. O TEMPO  NA CONSTRUÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO

O tempo de construção não é um tempo só formal, despido de conteúdo, mas um tempo qualificado e qualificador porque se pretende um tempo construtor da criação, já que o trabalho pedagógico é um trabalho que tem a sua competência reconhecida não só pelo seu aspecto técnico, mas também criativo, cognitivo, afetivo, etc. Trata-se de um tempo que tem como um dos seus principais ingredientes a reflexão. A reflexão é um esforço de ampliação e aprofundamento do conhecimento. Requer condições – dos coordenadores e do contexto em que eles se encontram para seu exercício. O tempo de construção contém reflexão. Ele dependerá, portanto, de como é trabalhado pelo coordenador pedagógico e seus pares e da querência coletiva em vivenciar este tempo. O trabalho pedagógico se construirá a partir desta dimensão revitalizadora do tempo, se construirá sobre o tempo de construção, constante e permanente.

5. GESTÃO E PARTICIPAÇÃO PEDAGÓGICA: UMA AÇÃO COLETIVA

O Coordenador Pedagógico é um profissional que deve valorizar as ações coletivas dentro da instituição escolar, ações essas que devem estar vinculadas ao eixo pedagógico desenvolvido na instituição. Ele deverá ser o articulador dos diferentes segmentos da mesma, na elaboração de um projeto pedagógico coletivo.
A consciência coletiva não surge certamente como um imperativo natural, ou mesmo como a primeira das prioridades em muitas realidades educacionais, não raras vezes surge de uma resposta à uma problemática que só pode ser conduzida pela participação de todos, por suas interações e decisões coletivas; outras vezes é estimulada pelo posicionamento democrático de gestores e professores que buscam no coletivo a legitimidade da vontade de todos. Não existe uma receita pronta para trabalhar com todas essas diversidades, mas sugere-se uma proposta de trabalho centrada na ação-reflexão-ação que visa contribuir para a problematização das práticas pedagógicas tendo como recorrência:
  • O conhecimento e a experiência pedagógica dos professores;
  • O princípio da “construção coletiva”, sem mascarar as diferenças e tensões existentes entre todos aqueles que convivem na instituição, considerando que as situações vividas nela se inscrevem num tempo de longa duração bem como as histórias de vida de cada professor.
  • Uma metodologia de trabalho que possibilite aos professores e aos coordenadores atuarem como protagonistas, sujeitos ativos no processo de identificação, análise e reflexão dos problemas existentes na instituição e na elaboração de propostas para sua superação.
Nessa proposta metodológica de ação-reflexão-ação podemos identificar 3 grandes etapas:
A) Compreensão da realidade da instituição;
B) Análise das raízes dos problemas (compreendendo a realidade escolar);
C) Elaboração e proposição de formas de intervenção de ação coletiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É preciso que num primeiro momento os coordenadores pedagógicos, além de sua competência técnica construída, do conhecimento básico sem o qual o exercício da função de coordenador não se faz possível, desenvolvam outras competências:
  • É importante que transformem o seu olhar, ampliando a sua escuta e modificando a sua fala, quando a leitura da realidade assim o requerer.
  • É necessário que a consciência coletiva seja respeitada, a ponto de se flexibilizar mais os planejamentos e que os mesmo sejam sempre construídos do e a partir do olhar coletivo.
  • Ter a capacidade de olhar de maneira inusitada, de cada dia poder perceber o espaço da relação e, consequentemente, da troca e da aprendizagem.
  • Ser capaz de perceber o que está acontecendo a sua relação com o professor e deste com o seu grupo de alunos.
  • Poder perceber os pedidos que estão emergindo, quais os conhecimentos demandados e, consequentemente, necessários para o momento e poder auxiliar o professor.
Neste sentido, há que se ter a consciência de que professor e também coordenador não têm todas as respostas para todos os eventos que ocorrem, mas as problematizam, encaminhando-as da maneira mais viável possível dentro do que se defende como processo democrático. Neste sentido, vale lembrar Lima (2007) que pontuadamente destaca que, uma vez considerado o si e o outro no processo do trabalho pedagógico e da vida na escola é oportuno enfatizar que as transformações sociais serão objeto de olhares sistema sistematizados, sobretudo na formação continuada de professores. Percebe-se então uma necessidade de uma nova concepção e olhar sobre a educação mediada pela ação-reflexão-ação no desenvolvimento do trabalho pedagógico e na sua problematização, enquanto objeto de discussão no espaço coletivo, onde também se aprende e ensinar e se ensina a aprender.


Bibliografia

LIMA, Paulo Gomes; SANTOS Sandra Mendes dos. O coordenador pedagógico na educação básica: desafios e perspectivas. Educare et Educare – Revista em Educação. Vol. 2 nº 4 jul./dez. 2007p. 77-90.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do estudo sobre a coordenação. Todos da educação sabem que coordenador(a) não exerce a sua real função, mas muitas e muitas vezes exerce as dos outros como professor, psicológo, RH, babá, pai,mãe e outros tantos. Fica assim, muitas vezes o seu real trabablho a desejar. Abraço a todos os coordenadores de escola do Brasil. Já fui coordenadora e sei o que é!!! A experiência para mim!! Abraços a toda equipe do Cefapro de Sinop e parabéns, Sara, pelo seu Blog. Está show!!!!!
Profª. Márcia Regina Paludo

Arlete Lima disse...

Gostaria de saber a pagina da citação de FONSECA (2001). Meu email arlete.arlete@hotmail.com
Obrigada!!!